A cefaleia é uma das queixas mais comuns da humanidade, sendo que aproximadamente 98% das pessoas em todo o mundo apresentarão pelo menos um episódio durante a vida. Ainda que o médico não seja neurologista ou até mesmo que o neurologista não seja especialista em cefaleia, ele atenderá inúmeros pacientes com esta queixa.
Já foram descobertas e estudadas mais de 200 causas distintas de cefaleia, além disso algumas delas estão listadas entre as doenças mais frequentes e incapacitantes do mundo, que neste caso são cefaleias do tipo tensão e migrânea, respectivamente. Haja vista toda a complexidade relacionada ao tema, a pergunta que fica é: “Como definir qual é o diagnóstico da cefaleia do paciente que está diante de mim no consultório ou na urgência?”.
Paradigma da cefaleia
Geralmente o paciente com cefaleia se vê órfão de médico. Se a pessoa tiver sorte de a dor dela ser transitória, ótimo; caso contrário, ela iniciará uma longa jornada à procura de diversos profissionais da saúde para encontrar a causa da suas dores de cabeça, tais como: oftalmologista, otorrinolaringologista, ginecologista, gastroenterologista, psiquiatra, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta, dentista e etc.
Um dos problemas a ser vencido é que o paciente procura o profissional de acordo com seus modelos explicativos leigos, ou seja, se ele sente dor atrás dos olhos, o profissional a ser consultado será o oftalmologista; se sentir náusea associadamente à cefaleia, o próximo será o gastroenterologista; se algum alimento desencadeia a dor, ele irá até o nutricionista.
O outro, talvez o maior dos problemas, é o desconhecimento dos próprios profissionais de saúde em relação às principais causas das cefaleias. Em uma pesquisa realizada em 1999 no Brasil, foi demonstrado que menos de 50% dos pacientes portadores de enxaqueca eram diagnosticados corretamente; 90% dos pacientes que apresentavam cefaleia do tipo tensão, que é a cefaleia mais comum do mundo, foram diagnosticados da maneira incorreta; e apenas aproximadamente 1 a cada 4 pacientes que sofriam com cefaleia em salvas receberam o diagnóstico correto.
Expectativa x Realidade
A consulta médica é o momento mais aguardado pelo paciente. Aquele é o ambiente mais propício para que o paciente se sinta à vontade para se expressar e descrever todas as suas queixas, dúvidas e expectativas.
Falando em expectativas, pouco se dá atenção a este importante detalhe. Se o profissional não conseguir alcançá-las, o resultado será de frustração para o paciente e, consequentemente, não haverá empatia nem adesão ao tratamento.
Este assunto parece ser simples e desnecessário, não é mesmo? Porém já há muitos anos sabemos que não. Uma pesquisa realizada no ano de 1979 investigou quais eram as expectativas dos pacientes numa consulta médica devido à queixa de cefaleia e o que os médicos achavam que os pacientes queriam em suas consultas, ou seja, a visão de cada lado: paciente x médico.
Os três itens mais citados pelos médicos como sendo as principais demandas dos pacientes foram:
- Alívio da dor
- Explicação
- Medicação.
Por outro lado, as expectativas mais frequentes dos pacientes foram:
- Explicação
- Alívio da dor
- Entender mais sobre as medicações.
É interessante perceber que os pacientes pareciam estar mais preocupados com o que eles estavam sentindo, o que causava suas dores, o que poderia provocar no futuro, não tanto sobre simplesmente tomar medicação.
Consulta médica
A avaliação médica consiste em: anamnese e exame físico/neurológico. Devemos lembrar que o termo anamnese deriva do grego “ana”, que significa trazer de novo ou trazer de volta, e “mnesis” que significa memória. Isto quer dizer que anamnese se refere ao ato de o médico evocar a memória do paciente, fazendo com que ele traga à sua mente aspectos sobre a sua doença. O epidemiologista Alvan Feinstein afirmou o seguinte: “A anamnese, o procedimento mais sofisticado da medicina, é uma técnica de investigação extraordinária, pois em pouquíssimas outras formas de pesquisa o objeto de estudo fala”.
Um fato importante a se perceber é que a pessoa que conduz a anamnese é o médico, ou seja, se ele souber o que perguntar, o paciente muito provavelmente saberá responder, porém se o profissional não tiver em mente um roteiro básico a respeito de questionamentos sobre cefaleias, o paciente pouco te dará de respostas.
Na medicina, em geral, estima-se que cerca de 85% dos diagnósticos são realizados apenas a partir da anamnese, restando aproximadamente 10% para o exame clínico e 5% que depende de exames complementares. Sinceramente, minha impressão é que para as cefaleias esses números são um pouco diferentes. Acredito que não é um exagero se eu afirmar que em cerca de 95% dos casos, o diagnóstico pode ser realizado através de uma boa e estruturada anamnese.
Anamnese
Então já entendemos que é necessário saber quais expectativas dos pacientes e que a anamnese é a principal ferramenta para que alcancemos sucesso em nossa consulta. A partir de agora apresentarei em tópicos o que o médico precisa perguntar durante sua avaliação.
Histórico pessoal: idade, estado civil, filhos, residência, emprego, nível escolar, naturalidade e residência atual.
Características da cefaleia: idade que iniciou a cefaleia, período de piora da cefaleia, localização, irradiação, intensidade, qualidade, sintomas associados, frequência e duração.
Histórico mórbido/Hábitos: doenças que o paciente possui, cirurgias prévias, vícios, alergias e intolerâncias.
Experiências com tratamentos prévios
A consulta é uma experiência única entre o paciente que sofre e o profissional que detém o conhecimento para ajudá-lo. É o momento mais especial e aguardado por aquele que deseja melhorar a sua qualidade de vida. Cabe a nós, médicos, ouvi-los, examiná-los, pensar sobre o seu caso, estabelecer o diagnóstico e realizar um tratamento personalizado. Isto é uma consulta de excelência.
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